Livro Digital - Operações de Paz de Caráter Naval

Barreiras e desafios ao emprego de tecnologias nas Operações de Paz das Nações Unidas Além da expressiva contribuição de tropas a partir da década de 1990, Estados do Sul Global 10 , vêm engajando-se ativamente nos deba- tes relacionados à prática e doutrina das Operações de Paz das Nações Unidas (Abiola et al., 2017, p. 172). Inserindo-se nas reflexões acerca de novas tendências deste instrumento multilateral para a gestão e re- solução de conflitos, os TCCs apresentam algumas ressalvas sobre o emprego de novas tecnologias, principalmente no que concerne o acesso à informação coletada pelos VANTs, o prejuízo à soberania dos Estados, o tipo de treinamento específico para operar determinados aparelhos, e, não exaustivamente, as implicações financeiras sobre o orçamento do Departamento de Operações de Paz (Abiola et al., 2017, p. 172). Na interpretação de alguns analistas, a tecnologia é o tema que mais evidencia o dilema contemporâneo das Operações de Paz das Nações Unidas: o gap entre Norte e Sul Global (Abiola et al., 2017, p. 152-153; Karlsrud, 2017, p. 272). Uma vez que estes instrumentos de inovação não são fornecidos pelos TCCs, e diante da grande dificuldade de trans- ferência, há um receio de que esta tendência apontada pelo Painel possa agravar ainda mais a clivagem entre aqueles que detêm e não detêm tec- nologia, fomentando um apartheid peacekeeping 11 (Ibidem). Adicional- mente, é digno de nota apontar que esta mudança paradigmática pode representar a introdução do vocabulário da inteligência nas Nações Unidas, instrumentalizando e monopolizando os processos de coleta de informação para fins militares (Ibid.). Diante da falta de uma cultura insti- tucionalizada da organização para a coleta de informação estruturada e de identificação de informações e necessidades estratégicas prioritárias, 10 Para uma discussão pormenorizada sobre a participação dos Estados do Sul Global nas Operações de Paz das Nações Unidas, ver: CUNLIFFE, Philip. Legions of Peace: UN Peacekeepers from the Global South. C. Hurst & Co: London . 2013. 11 Terminologia empregada em 2005 por Jean-Marie Guéhenno, então Subsecretário-Ge- ral das Nações Unidas para as Operações de Manutenção da Paz, que denota o envolvi- mento assimétrico dos Estados mais ou menos desenvolvidos no universo do peacekeeping (Abdenur, 2019, p. 52).

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